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sexta-feira, 30 de abril de 2010
Referências táticas: futebol para a autonomia
Muitas das coisas que fazemos ou deixamos de fazer no dia a dia são norteadas por parâmetros criados ao longo de séculos pelos homens e suas sociedades.
Não importa o lugar, idade ou condição, sempre existirão parâmetros que norteiam nossa conduta.
Em ambientes específicos, a existência de certos parâmetros é comumente confundida com estímulo a dependência, destruição do pensamento, robotização do ser humano.
Essa confusão, que faz nascer um ambiente contrário à autonomia, acaba muitas vezes por servir de argumento para que se defenda a abolição de parâmetros em outros ambientes.
No futebol, vivemos a todo o tempo e em varias dimensões esse problema.
Na história desse nosso apaixonante esporte, o desconhecimento e a fragmentação cartesiana fizeram com que em momentos distintos surgissem discussões que opuseram por vezes “futebol força” e “futebol arte”, por vezes “preparação” e “talento”, por vezes “regras a serem seguidas” e “perda de autonomia”.
É fato longitudinal no futebol que a visão que impera (e por vezes sai à tona) é aquela na qual ou se privilegia a criatividade, a beleza e o brilhantismo, ou se privilegia o cumprimento das “ordens” do treinador, o resultado e o pragmatismo.
O ser humano não se separa em corpo físico, alma e mente. O ser humano é corpo, é alma e é mente ao mesmo tempo, o tempo todo, sempre. Portanto quando se movimenta, carrega consigo uma série de significados que dão sentido à sua ação (e À sua existência).
Isso quer dizer, em outras palavras, que se a ação tem porquês que a simbolizam, não importa qual seja ela, esses símbolos vão sempre existir. Sendo assim, como é possível que ela (a ação) seja ordenada em um esporte como o futebol, onde 11 jogadores com objetivos comuns (e particularidades distintas) enfrentam outros 11 jogadores?
A resposta é inevitável: criando referências (parâmetros) para o jogo, de maneira que os jogadores possam coletivamente agir a partir de um entendimento comum.
Em outras palavras, da mesma maneira que a ação individual faz sentido para o próprio indivíduo, a ação coletiva também precisa fazer sentido à totalidade dos jogadores e a cada um deles ao mesmo tempo. E ao contrário do que se pensa comumente, isso não precisa significar, inibir o ser criativo ou transformar homens em máquinas; pelo contrário.
Criar referências que deem significado para a ação dos jogadores, não só pode qualificar a ação coletiva a partir de um melhor entendimento do jogo, como também pode cada vez mais propiciar decisões acertadas e criativas por parte de quem joga (e ainda ao mesmo tempo, mais inusitadas para os adversários).
A beleza do jogo está na ação do indivíduo; mas ele não joga sozinho. Os parâmetros para o jogo coletivo em equipe são as referências que norteiam suas ações. Não as referências que o condicionam a burras ações robotizadas pelo controle remoto do treinador – essas só reforçam a correta ideia de que os “parâmetros” inibem o jogador –, mas as referências que possibilitam melhor compreensão individual e coletiva do jogo, para que os jogadores, lendo o mesmo jogo, possam tomar decisões convergentes, de maneira criativa e autônoma.
Autor: Rodrigo Azevedo Leitão
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Suplementação de BCAA no Futebol.
Estes suplementos trazem em sua composição os aminoácidos leucina, valina e isoleucina (e dependendo do fabricante e da qualidade do produto alguns outros aminoácidos essenciais).
Alguns treinamentos (como os aeróbicos) e os jogos aumentam a degradação de gorduras, e para utilização destas no sistema metabólico o organismo necessita de uma proteína transportadora chamada de albumina.
O triptofano também é transportado pela albumina, mas quando muitas albuminas transportam gorduras não transportam triptofano, que fica livre. Este passa para o sistema nervoso central e é transformado em serotonina, um neurotransmisor que causa fadiga e sono. É bom para dormir, mas ruim para treinar.
A função dos BCAA é de impedir a entrada deste triptofano livre no sistema nervoso central, retardando a formação de serotonina e, consequentemente, a instauração da fadiga.
Além disso, os BCAA’s perfazem 35% da composição da musculatura esquelética, o que os torna bastante importantes já que estão em concentração significativa nos nossos músculos, sendo a Leucina em maior proporção em relação à Valina e a Isoleucina.
Durante a prática de exercícios intensos, os BCAA’s são os primeiros aminoácidos a serem degradados pelo músculo para a aquisição de energia. Nessa situação, os BCAA’s quando suplementados, podem promover a síntese protéica, o que evita o catabolismo e serve como substrato para a gliconeogênese.
Por fim, outro importante fator relacionado ao uso dos aminoácidos de cadeia ramificada, seria a sua relação com a melhoria do sistema imunológico.
Os exercícios prolongados causam relativa queda nas defesas do organismo, o que parece estar associado à diminuição das concentrações de glutamina na corrente sanguínea pós - exercício, e os BCAA's são substratos utilizados para a síntese de glutamina.
Enfim, a suplementação com aminoácidos de cadeia ramificada ajuda a melhorar a performance pois: promove ação anti-catabólica, retarda o aparecimento da fadiga central, poupa glicogênio muscular, fortalece o sistema imunológico, auxilia na hipertrofia muscular.
fontes:
http://renatoalvarenga.blogspot.com
BIESEK, Simone; ALVES, Letícia Azen; GUERRA, Isabela. Estratégias de Nutrição e Suplementação no Esporte. Barueri, SP: Manole, 2005.
BACURAU, Reury Frank . Nutrição e Suplementação Esportiva. Guarulhos, SP: Phorte Editora, 2000.
domingo, 18 de abril de 2010
Resistência Especial - Anaeróbico Lático com bola
A capacidade anaeróbia bem treinada estabelece ao futebolista uma base funcional para o aperfeiçoamento de diversos aspectos, mas principalmente o deixará mais adaptado às ações e exigências do futebol e com uma maior tolerância à fadiga.
Em uma partida de futebol, pode-se perceber diversos tipos de deslocamento, realizados em vários tipos de intensidade, onde a melhor adaptação ao metabolismo exigido tornará o jogador mais eficiente dentro daquilo que dele se espera.
O metabolismo anaeróbio, sobretudo o glicolítico, tem importância ímpar dentro dessa análise, pois uma grande parte da atividade dos movimentos dos futebolistas está baseada na desintegração anaeróbia do glicogênio. Sabemos a importância da capacidade física velocidade em todos os esportes. Porém, de nada adiantará termos um atleta extremamente veloz no futebol que consiga dar apenas alguns sprints, sendo logo vencido pela fadiga e pela falta de adaptação às exigências específicas do esporte.
Com isso fica clara a importância do treinamento anaeróbio para o desempenho de jogadores de futebol, uma vez que a intensidade de trabalho destes atletas durante uma partida pode diminuir e até mesmo ser interrompida quando houver uma grande concentração de lactato. A sequência de figuras abaixo traz um dos muitos exemplos de exercicios fisico - técnicos que podem ser utilizados para o treinamento da resistência anaeróbica.
obs: Ressalto a importância da cautela com relação a este tipo de treinamento nas categorias de base em atletas com baixo nivel maturacional, pois a fosfofrutoquinase (enzima envolvida na glicólise anaeróbica) tem seu 'nível maturacional' ligado ao da criança, o que pode influenciar na eficiência do sistema de produção de lactato.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Velocidade no Futebol
Quando falamos em velocidade, uma capacidade neuro-motora tão importante para a maioria dos esportes, devemos ter em mente que, principalmente dentro dos desportos coletivos, ela raramente se manifesta de forma simples, mas quase que em absoluto em sua forma complexa.
A velocidade para o treinamento de futebolistas foge ao conceito clássico que aprendemos quando iniciamos o curso de educação física na faculdade. De forma simplificada, entendíamos de acordo com a maioria dos autores que num trecho de 100 metros, numa prova individual em que a velocidade é exigida ao extremo, atletas de elite teriam a capacidade de acelerar até aproximadamente 30-40 metros, manterem o ritmo da velocidade até os 70-80 metros e desacelerar a partir dessa distancia.
Logicamente, se você está acostumado a observar partidas de futebol, mesmo sem análise cientifica alguma, jamais deve ter visto algum jogador executar um tiro de 100 metros e muito menos, de forma continua e em linha reta, 200 ou 300 metros. Isso serviria sim como método de treino aos velocistas do atletismo. Mesmo que alguns profissionais que militam na preparação física no futebol dispensem a tendência mundial sobre especificidade do treinamento e ainda insistam em embasar seu conhecimento com as experiências realizadas com atletas dos esportes individuais e transferir isso para o futebol, não devemos concordar com essa confusão metodológica tão evidente.
A literatura e os resultados com a metodologia correta têm sido recompensadores para muitos profissionais, que aprenderam a treinar futebol com futebol e não com montanhas, rampas, escadarias, areia e tantas outras coisas que não fazem parte de nada relacionado ao jogo. Para contestar esses aparatos e métodos, alguns estudos na área da fisiológica seriam o bastante - a ciência valida as novas tendências -, mas o bom senso e a percepção de que o futebol evoluiu são determinantes para o inicio da mudança.
O “novo” às vezes confunde e assusta!
Em relação aos conceitos de velocidade, por exemplo, há uma boa evolução consensual entre o meio acadêmico, pois o discurso para os que pretendem ou trabalham com futebol já passa pelo raciocínio de que o conceito clássico do treinamento de velocidade utilizado necessariamente no atletismo não quer dizer muita coisa quando temos por objetivos desenvolver ou mesmo manter as manifestações da velocidade de futebolistas.
Pensando nisso, há algumas definições que deixam muito clara a idéia de como começarmos a criar uma metodologia próxima do ideal para o treinamento no futebol, respeitando a especificidade da atividade competitiva.
· Velocidade de percepção: Perceber as situações do jogo e modificá-las o mais rápido possível, muitas vezes mesmo sem tocar na bola.
· Velocidade de antecipação: Capacidade de adiantar-se ao movimento do adversário ou do desenvolvimento do jogo.
· Velocidade de decisão: Algumas jogadas não são realizadas não por falta de habilidade, mas sim por falta de decisão. Isso mostra que não é suficiente somente perceber algo, mas sim decidir rapidamente e objetivamente a jogada.
· Velocidade de reação: Fintar, reagir às fintas, saídas rápidas em espaços vazios, recuperar bolas mal passadas, bolas que desviam, etc.
· Velocidade de movimento sem bola (cíclico e acíclico): Deslocamentos repetidos em aceleração em espaços amplos para busca de melhor posicionamento, ou movimentos em pequenos espaços e ações isoladas com fintas, etc.
· Velocidade de ação com bola: Inclui os componentes coordenativos e técnicos do futebol. Essa manifestação de velocidade tem por base a percepção, antecipação, decisão e reação.
· Velocidade de habilidade: É a forma mais complexa da manifestação da velocidade. Não é definida somente pelas ações energéticas e musculares, pois para exercer a habilidade no esporte necessitamos de raciocínio técnico, ou seja, compreensão do jogo.
As distâncias percorridas: quantificação e qualificação
Detectar os espaços percorridos durante uma partida se tornou algo bastante simples. Uma boa filmagem, um GPS, um programa simples no computador e alguns cálculos para conversões numéricas ou gráficas de imagens nos permitem observar de forma exata a distância total e o perfil de velocidade de cada atleta durante uma partida de futebol.
Outros fatores também devem ser levados em consideração para a organização do treinamento: posicionamento, nível de treinabilidade, nível de adaptação, ações técnicas, numero de sprints em suas varias distâncias, distâncias parcial e total.
Segundo a maioria das análises videográficas conhecidas até hoje, identificamos que atletas de futebol de elite chegam a repetir de 30 a 100 sprints em distâncias variadas entre 5 a 40-50 metros, dependendo de seu posicionamento em campo.
Sabe-se também que a maioria dos sprints em alta velocidade gira em torno de 20 a 25 metros. Mas toda essa análise quantitativa do desempenho do atleta não fornece dados suficientes para entendermos a qualidade do desempenho. Precisamos sempre unir a avaliação quantitativa às observações qualitativas, ou seja, se pensamos em velocidade, precisamos entender de que forma foi executado o movimento.
Esses são passos importantes para o entendimento do desempenho real de cada jogador. Considerando esses dados sobre distâncias percorridas em jogos de futebol, cada dia mais evidentes na literatura internacional, fica claro que os jogadores de futebol não necessitam da mesma “velocidade” que um corredor de 100 ou 400 metros.
Nessas modalidades cíclicas, os métodos de treinamento também seguem o princípio da especificidade e basicamente essa ordem metodológica de trabalho: velocidade de reação, aceleração e resistência de velocidade de forma exclusivamente cíclica. O futebol se difere muito dos métodos de velocidade do atletismo, ou seja, não é cíclico, tem características intervalas e intermitentes.
Para desenvolver as várias manifestações da velocidade no futebol, podemos criar métodos motivacionais a partir de estratégias simples. Os pequenos jogos e confrontos individuais com bola atraem muito os futebolistas, pois além de se parecerem muito com a disputa real, cada jogador pode utilizar em muitos momentos do trabalho a criatividade nas ações contra seu “adversário” desenvolver métodos de treinamento para futebolistas em que a velocidade esteja relacionada diretamente com a habilidade individual deve ser a tônica da maioria das sessões de velocidade.
O que adiantaria uma capacidade de aceleração extremamente bem desenvolvida ou mesmo uma ótima força de saltos, se o futebolista não conseguisse utilizar essas manifestações em situações adequadas do jogo? Os métodos de trabalho devem representar as ações competitivas para que o atleta reconheça as situações dos jogos e a capacidade que tem para enfrentá-las na disputa.
Outro detalhe que nunca podemos deixar passar despercebido é que força e velocidade são componentes que se interagem completamente. O bom desenvolvimento das manifestações de força, assim como todos os exercícios coordenativos, está diretamente associado ao desenvolvimento da velocidade.
Fonte: http://www.marciofariacorrea.com/home.php
terça-feira, 6 de abril de 2010
Apresentação
A partir desta percepção surgiu a necessidade de inaugurar um espaço de reflexão e argumentação, aberto a todos os que de alguma forma estão envolvidos com o treinamento no futebol, suas tendências, paradigmas e considerações...
Sejam bem vindos (as)!!!
Segue o debate...
Primeiros Pensamentos
Das diversas atividades desportivas existentes, o futebol é uma das mais praticadas no mundo. Trazido ao Brasil pelos ingleses no final do século XIX e praticado inicialmente apenas pelas elites sociais, este esporte se transformou gradativamente numa das representações sociais[1] mais significativas do povo brasileiro. Com o passar do tempo, o Brasil se tornou o ‘país do futebol’, não somente pelo sucesso de suas seleções ou equipes no cenário internacional, mas sim, e principalmente, porque este esporte se tornou a atividade desportiva mais praticada no país, fazendo parte do cotidiano da população e permeando a própria história nacional.
O grau de desenvolvimento que a modalidade alcançou no Brasil transforma o sucesso nos gramados em sonho comum para muitos, e cria uma abundância de candidatos a craque.
Entendemos que no cenario atual do futebol, a ' associação' eficiente entre técnica e condicionamento fisico ganhou importância, sendo este ultimo aspecto fundamental para alcançar elevados niveis de desempenho.
No entanto, seria interessante refletir acerca desta tal 'associação' e lembrar da importância da qualidade do jogo.
As perguntas que ficam... como tornar o treinamento (e consequentemente o jogar!) ao mesmo tempo qualificado e competitivo? De que forma a preparação fisica pode contribuir para que a equipe alcance estes objetivos?
Segue o debate...
[1] Segundo J. Bruner (no livro Realidade Mental, Mundos Possiveis) se definem como a forma pela qual o senso comum de um determinado grupo social constroe determinada referência, fato ou situação presenciada ou conhecida.