sexta-feira, 7 de maio de 2010

Radicais livres X Risco de lesão

Uma das preocupações dos nutricionistas refere-se à presença de radicais livres nos organismos dos jogadores. Eles são átomos ou moléculas que, em virtude de seus elétrons desemparelhados, apresentam grande reatividade, significando que podem reduzir os elétrons (oxidar) de compostos como proteínas, DNA (alvos mais comuns) e lipídios, promovendo, consequentemente, danos aos sistemas biológicos, ou seja, aumentando os riscos de lesões, principalmente em nível celular.

A produção de radicais livres no organismo pode acontecer de diversas maneiras. Uma das principais é o metabolismo oxidante (redução controlada do oxigênio), cuja ocorrência deve-se a uma pequena porcentagem (entre 2% e 5%) de oxigênio que não recebe o número apropriado de elétrons na cadeia respiratória. Chamam-se de espécies ativas de oxigênio, os radicais livres derivados desse elemento químico.

“Os radicais livres, no organismo, estão envolvidos em processos de inflamação, de lesão muscular, por causarem danos na membrana celular ou no DNA das células”, disse Gláucia Figueira Braggion, nutricionista do Centro de Estudos do Laboratório de Apitidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs). “Sendo assim, o atleta, em geral, produz mais radicais livres do que um não-atleta. Embora essa produção seja maior, existe, também, um aumento na atividade do sistema de defesa do organismo, o sistema antioxidante”, explicou.

No combate aos radicais livres, o corpo humano arma-se de um eficiente sistema de proteção formado por glutationa, sulfidrils, vitaminas e enzimas antioxidantes. Antioxidantes são substâncias que ajudam a reduzir a severidade do estresse induzido pelos radicais livres derivados do oxigênio.

O problema referente à produção de radicais livres vincula-se ao fato de que, quando presentes em excesso, acima da capacidade dos organismos neutralizá-los, podem causar sérios danos aos tecidos, gerando doenças cardíacas, diabetes, catarata, alguns tipos de câncer, etc.

Alguns fatores que se vinculam ao aumento de produção dos radicais livres são:

- idade;
- sexo masculino;
- dietas pobres em nutrientes antioxidantes;
- hábito de fumar;
- habitar áreas com altos índices de poluição atmosférica.

Outro fator, ao qual vamos nos ater com maior profundidade neste texto, é a relação da produção de radicais livres com a realização de exercícios. Estudos indicam que existe um aumento na quantidade de radicais livres quando o consumo de oxigênio pelo organismo é maior.

Sendo assim, se um jogador de futebol realiza um esforço que aumenta o consumo de oxigênio, a produção de radicais livres também cresce de maneira significativa, contribuindo para a fadiga e para ocorrências de lesões musculares induzidas pelo exercício.

Outros processos ligados ao exercício físico também são responsáveis pelo aumento na produção de radicais livres pelo organismo: aumento nos níveis de catecolaminas, produção de ácido lático, elevada taxa de auto-oxidação de hemoglobina (durante e depois do exercício), processo de isquemia-reperfusão e aumento da temperatura.

É importante deixarmos claro que o aumento na produção de radicais não é um fato exclusivamente ligado aos exercícios aeróbios, mas acontece em algumas situações em que existe a oclusão de vasos sanguíneos, por exemplo, quando se faz musculação. Nesse caso, a ocorrência se dá por causa do processo de isquemia-reperfusão, isto é, pela redução seguida do restabelecimento do fluxo sanguíneo para um determinado tecido.

Demonstra-se que atletas apresentam níveis de enzimas antioxidantes mais elevados do que indivíduos sedentários. Isso sugere que a pessoa que pratica exercícios regularmente está, na verdade, mais protegida do que um indivíduo que não pratica.

“Estudos recentes apontam que atletas que fazem uso de suplementos vitamínicos não respondem ao treino da mesma maneira do que outros que não utilizam a suplementação”, contou Enrico Puggina, especialista em Fisiologia do Exercício pelo Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício da Escola Paulista de Medicina e mestre em Educação Física pelo núcleo de Performance Humana da Unimep. “Ou seja, a eficiência da suplementação para essa função é bastante contraditória, uma vez que o atleta tem mais substrato para defender-se dos radicais livres, mas tem maior dificuldade em adaptar-se aos treinamentos”, completou.

Portanto, o indivíduo que apresenta o maior risco potencial de sofrer lesões pela ação dos radicais livres é aquele que ainda não está adaptado ao exercício.

“O que acontece, geralmente, com atletas que ficam mais propícios a sofrerem lesões por conta da maior presença de radicais livres, é que eles não se alimentam adequadamente para fornecer o substrato para que o sistema antioxidante possa agir”, afirmou Glaúcia.

Alguns estudos apontam que o aumento da produção de radicais livres promovido pelo exercício é maior do que a adaptação que este pode propiciar em virtude do aumento do sistema de defesa. Por isso, é essencial que haja o consumo de nutrientes com propriedades antioxidantes para fortalecer a proteção juntamente com as enzimas.

Muitas pesquisas sugerem que há uma relação de causa e efeito entre o consumo adequado de antioxidantes e a prevenção e diminuição de certos tipos de doenças e lesões. Dos nutrientes que têm comprovada ação oxidante, os mais estudados são as vitaminas hidrossolúvel C e as lipossolúveis beta-caroteno E.

“Se um indivíduo possui uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas e minerais antioxidantes, ele aumenta a produção de enzimas antioxidantes e minimiza os riscos de lesão”, contou a nutricionista do Celafiscs.

A vitamina E é considerada o antioxidante mais importante dos sistemas biológicos, por localizar-se em membranas plasmáticas e em organelas. A ação antioxidante da vitamina E pode ser direta, combatendo os radicais livres, ou indireta, ajudando na regeneração de outros nutrientes envolvidos no sistema antioxidante.

No caso da vitamina C, além das diversas funções dela no metabolismo dos organismos, acresce-se o fato de que a demanda desse nutriente pode ser influenciada por diversos fatores ambientais (temperatura, poluição, exposição a metais pesados, etc). Isso nos leva a concluir de que, principalmente os atletas devem consumir quantidades de vitamina C acima do que recomenda a Recomendação de Ingestão Diária (RDA, sigla em inglês).

Entretanto, no caso da vitamina C,o uso de quantidades maiores que o RDA sugere deve ser cauteloso, em virtude da evidência de que a ingestão crônica de altas doses dessa vitamina pode produzir vários distúrbios fisiológicos.

O beta-caroteno é um pigmento vegetal com ação antioxidante reconhecida. Mais do que isso, outros carotenóides também podem atuar no combate aos radicais livres.

A Coenzyme Q10 (CoQ10) é uma substância presente na cadeia de transporte de elétrons e apresenta propriedades antioxidantes que são visíveis em quadros patológicos ou de isquemia.

Vários outros micronutrientes, entre os quais, os minerais cobre, zinco, manganês, selênio e ferro têm propriedades antioxidantes ou entram em composição com compostos com ação anti-radicais livres. Existem evidências de que o índice desses minerais pode diminuir em decorrência do treinamento. Apesar disso, o consumo de grandes doses deve ser evitado, pois essa prática pode ser tóxica.

“Eu vou elencar os alimentos e as vitaminas que podem ser consumidos com o propósito de trabalhar-se nesse processo antioxidante. Os vegetais verde-escuros têm bastante vitamina E. Já a vitamina A está presente nas margarinas, nas gorduras e nos óleos vegetais, e também, nos alimentos amarelados como a cenoura. Em frutas e legumes podemos encontrar grande quantidade de vitamina C. Além das vitaminas podemos citar como exemplo o selênio, presente nas castanhas e castanhas e nos cereais integrais. Além desses, há outros alimentos que possuem elementos antioxidantes, os quais devem ser consumidos à vontade para que se tenha a defesa e combater os radicais livres”, finalizou Gláucia.

Autor: Marcelo Iglesias

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog